terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O SOPAPO DE TODOS OS PAPOS

por Leandro Anton



No final da tarde do dia 16 de abril de 2008, na Avenida Capivari 602, bairro Cristal em Porto Alegre-RS, numa sala a pouco pintada e vazia de mobiliários estava cheia de história, de gerações que se encontravam e registravam os preparativos do evento daquela noite de outono. Gilberto Amaro do Nascimento, Neives Meireles Baptista, e Marcelo Cougo, entre sons de Cavaquinho, Cuíca e Sopapo eram filmados por jovens do primeiro curso de audiovisual do Quilombo do Sopapo, ponto de cultura que estava para receber no início da noite a benção dos seus padrinhos e madrinha, Meste Giba Giba, Mestre Baptista e Bataclã FC.
Os jovens em meio a acordes, histórias e gargalhadas registravam alguns depoimentos, Mestre Giba  Giba fala do CABOBU, encontro dos Tambores do Sul realizado em Pelotas no ano de 2000, quando convidou Baptista para construir os quarenta Sopapos que foram as ruas de Pelotas na primeira edição do evento, a inclusão do Sopapo no dicionário Banto do Brasil de Nei Lopes, a música de Paulo Moura e João Donato sobre o Tambor de Sopapo e um breve registro“A cultura tu não faz dentro de uma sala, a cultura é o jeito de ser de um lugar, não tem monitoramento cultural, tem uma educação geral que é do povo que o povo se organiza cada um no seu jeito de ser e dali se tem a cultura, por isso não sabemos até agora o tambor típico de nosso lugar... aqui chamam a polícia quando estamos tocando tambor... tem vizinho que grita que tem barulho, tem muito fiscal da alegria, tem muita proibição, tem muito regulamento, tem muito quequequé, muito jerêrêré, dadadá, e isto aí não é legal pra ninguém, muito menos para a cultura e educação, tenho dito!”.

Giga Giba, acolheu, apadrinhou e principalmente construiu e transformou o Quilombo do Sopapo pela palavra, pela música, pelo Tambor de Sopapo nestes seis anos, Mestre Giga Giba como é conhecido por todos que ouviram histórias através do Grande Tambor nas escolas e no Ponto de Cultura durante a Ação Griô O Sopapo de Todos os Papos, pela tradição oral encantou juntamente com os Griôs Edu do Nasmento e Mestre Jaburu e com a Aprendiz Fernando Rizzolo, crianças e jovens das escolas públicas da Região Cristal através da história do negro no Rio Grande do Sul contada e cantada através do Tambor de sopapo.
Assim como os Pontos de Cultura, a Ação Griô surge com o programa cultura viva, na condução de outro Gilberto, também negro e ícone da música brasileira como Gilberto Amaro do Nascimento, Gilberto Gil revulociona a cultura brasileira naquilo que nas suas palavras são “uma espécie de "do-in" antropológico, massageando pontos vitais, mas momentaneamente desprezados ou adormecidos, do corpo cultural do país. Enfim, para avivar o velho e atiçar o novo. Porque a cultura brasileira não pode ser pensada fora desse jogo, dessa dialética permanente entre a tradição e a invenção, numa encruzilhada de matrizes milenares e informações e tecnologias de ponta. Os Pontos de Cultura são intervenções agudas nas profundezas do Brasil urbano e rural, para despertar, estimular e projetar o que há de singular e mais positivo nas comunidades, nas periferias, nos quilombos, nas aldeias: a cultura local. A política cultural do programa vem no sentido de "clarear caminhos, abrir clareiras, estimular, abrigar; para fazer uma espécie de do-in antropológico, massageando pontos vitais, mas momentaneamente desprezados ou adormecidos, do copo cultural do país"

Giba Giba é expressão deste Doi Antropológico, desta resistência que  a tradição Oral permitiu manter vivo uma das maiores bens culturais do Rio Grande do Sul, o Tambor de Sopapo e todo patrimônio imaterial que ele projeta. Para a Rede dos Pontos de Cultura do Brasil eternamente Mestre Giba Giba, eternamente Mestre Griô, eternamente uma mordida na flôr!

 “A cultura tu não faz dentro de uma sala, a cultura é o jeito de ser de um lugar”, 16 de abril de 2008 Giba Giba, padrinho do Quilombo do Sopapo, no dia da benção ao Ponto de Cultura, sendo entrevistado pelos jovens do primeiro curso de audiovisual do Ponto.



 Mestre Giba Giba (Tambor de Sopapo) , Marcelo Cougo da Bataclã FC (cavaquinho) e Mestre Baptista (cuíca), os padrihos e a madrinha do Quilombo do Sopapo.



 Mestre de Tradição Oral Giba Giba



 Lançamento da ação griô O Sopapo de Todos os Papos no Quilombo do Sopapo, Mestre Giba Giba e Griô Edu do Nascimento numa roda de contação de histórias sobre os negros no Rio Grande do Sul através narrada pelo Grande Tambor.


Griô Jaburu, Griô Edu do Nascimento e Mestre Giba Giba numa roda de contação de histórias musica no Quilombo do Sopapo, ação griô O Sopapo de Todos os Papos.


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