sábado, 8 de junho de 2013

Tradição afro-gaúcha para o Brasil conhecer



Alabê Ôni no caderno cultura da Zero Hora
Por Juarez Fonseca

"O Alabê Ôni vem espalhando surpresa atrás de surpresa onde quer que se apresente. Neste sábado (8/6), o grupo faz show em Manaus e segunda-feira em Rio Branco, no Acre. No próximo sábado, toca em Pelotas. Mas as surpresas começaram aqui perto, em Florianópolis, onde se apresentou em 29 de maio, no lançamento nacional do projeto Sonora Brasil 2013/2014. Depois de assisti-lo, o compositor Edino Krieger considerou-o "uma revelação pela qualidade do trabalho e uma revelação em relação à própria história cultural do Rio Grande do Sul, da qual só conhecemos o lado gaúcho, branco, europeu". O leitor se perguntará: que grupo é esse? O que tem a ver com ele Edino Kriger? Importante nome da música erudita brasileira, o catarinense Edino é o homenageado desta edição do consagrado projeto do Sesc. E o Alabê Ôni é um dos quatro grupos selecionados para circular pelo país com o propósito de mostrar o desenvolvimento histórico da música brasileira.

Criado no fim de 2012 por iniciativa de Richard Serraria para buscar a ancestralidade da música negra do Rio Grande do Sul, o Alabê Ôni tem como centro o sopapo, tambor de grandes dimensões e som bem grave, cuja origem remonta aos escravos das charqueadas da região de Pelotas, nos séculos 18 e 19. A partir dele, o grupo acrescenta os também antigos tambores do Litoral Norte, ligados ao sincretismo religioso que deu origem a ritmos como o cada vez mais conhecido maçambique. Inclui ainda a tradição do batuque, religião afro-brasileira própria do Rio Grande do Sul, cujo ritual é marcado pela influência das culturas jêje-nagô, com seus toques de tambor. E absorve o candombe, gênero afro-uruguaio que utiliza diferentes tambores e tem crescente presença por aqui. Então, já se vê que a música do Alabê Ôni ("Mestre dos tambores" no idioma iorubá) é fortemente percussiva. As letras, quase todas de Serraria, são em português e em iorubá.

Com cinco discos lançados três deles à frente da banda Bataclã FC, Serraria é doutorando em Literatura Brasileira na UFRGS, estudando a canção popular construída junto aos tambores. Os outros integrantes do grupo são Kako Xavier, autor de quatro discos ligados à cultura negra do litoral norte; Pingo Borel, filho de Mestre Borel, principal yalorixá do batuque; e Mimmo Ferreira, instrumentista uruguaio radicado há 20 anos em Porto Alegre. Eles estão apresentando ao Brasil, pela primeira vez, a forte presença negra na formação cultural do RS. A surpresa vem do fato de que quando se fala em música gaúcha, as pessoas logo imaginam artistas de bota, bombacha e gaita tocando vanerão. O Alabê Ôni revela uma realidade bem diferente. Até setembro, quando termina a primeira etapa do Sonora Brasil, o grupo terá feito mais de 50 shows nas capitais e principais cidades das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.


Curiosamente, o público gaúcho será o último a conhecer ao vivo o Alabê Ôni, pois a segunda etapa do projeto, com cerca de 70 shows nas regiões Sudeste e Sul, só se desenvolverá em 2014. Mas a página e o blog do grupo na internet contam sua história e acompanham suas apresentações Brasil afora com atualizações praticamente diárias. Os shows e encontros com músicos e grupos locais (como o Trio Manari e o Arraial da Pavulagem, do Pará) estão sendo filmados para um documentário produzido por Serraria e pela equipe do Coletivo Catarse, que será lançado ao final das turnês. Enquanto não chega esse documentário, está saindo este mês o primeiro DVD do Alabê Ôni, também com o Catarse, mostrando manifestações populares e ancestrais do RS negro, gravadas em diversos locais. Trechos do DVD podem ser vistos no You Tube. Aposto que o leitor também se surpreenderá."

http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2013/06/juarez-fonseca-tradicao-afro-gaucha-para-o-brasil-conhecer-4164241.html

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