Alabê Ôni no caderno cultura da Zero Hora
Por Juarez Fonseca
"O Alabê Ôni vem espalhando
surpresa atrás de surpresa onde quer que se apresente. Neste sábado (8/6), o
grupo faz show em Manaus e segunda-feira em Rio Branco, no Acre. No próximo
sábado, toca em Pelotas. Mas as surpresas começaram aqui perto, em Florianópolis,
onde se apresentou em 29 de maio, no lançamento nacional do projeto Sonora
Brasil 2013/2014. Depois de assisti-lo, o compositor Edino Krieger considerou-o
"uma revelação pela qualidade do trabalho e uma revelação em relação à
própria história cultural do Rio Grande do Sul, da qual só conhecemos o lado
gaúcho, branco, europeu". O leitor se perguntará: que grupo é esse? O que
tem a ver com ele Edino Kriger? Importante nome da música erudita brasileira, o
catarinense Edino é o homenageado desta edição do consagrado projeto do Sesc. E
o Alabê Ôni é um dos quatro grupos selecionados para circular pelo país com o
propósito de mostrar o desenvolvimento histórico da música brasileira.
Criado no fim de 2012 por
iniciativa de Richard Serraria para buscar a ancestralidade da música negra do
Rio Grande do Sul, o Alabê Ôni tem como centro o sopapo, tambor de grandes
dimensões e som bem grave, cuja origem remonta aos escravos das charqueadas da
região de Pelotas, nos séculos 18 e 19. A partir dele, o grupo acrescenta os
também antigos tambores do Litoral Norte, ligados ao sincretismo religioso que
deu origem a ritmos como o cada vez mais conhecido maçambique. Inclui ainda a
tradição do batuque, religião afro-brasileira própria do Rio Grande do Sul,
cujo ritual é marcado pela influência das culturas jêje-nagô, com seus toques
de tambor. E absorve o candombe, gênero afro-uruguaio que utiliza diferentes
tambores e tem crescente presença por aqui. Então, já se vê que a música do
Alabê Ôni ("Mestre dos tambores" no idioma iorubá) é fortemente
percussiva. As letras, quase todas de Serraria, são em português e em iorubá.
Com cinco discos lançados três
deles à frente da banda Bataclã FC, Serraria é doutorando em Literatura
Brasileira na UFRGS, estudando a canção popular construída junto aos tambores.
Os outros integrantes do grupo são Kako Xavier, autor de quatro discos ligados
à cultura negra do litoral norte; Pingo Borel, filho de Mestre Borel, principal
yalorixá do batuque; e Mimmo Ferreira, instrumentista uruguaio radicado há 20
anos em Porto Alegre. Eles estão apresentando ao Brasil, pela primeira vez, a
forte presença negra na formação cultural do RS. A surpresa vem do fato de que
quando se fala em música gaúcha, as pessoas logo imaginam artistas de bota,
bombacha e gaita tocando vanerão. O Alabê Ôni revela uma realidade bem
diferente. Até setembro, quando termina a primeira etapa do Sonora Brasil, o
grupo terá feito mais de 50 shows nas capitais e principais cidades das regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Curiosamente, o público gaúcho
será o último a conhecer ao vivo o Alabê Ôni, pois a segunda etapa do projeto,
com cerca de 70 shows nas regiões Sudeste e Sul, só se desenvolverá em 2014.
Mas a página e o blog do grupo na internet contam sua história e acompanham suas
apresentações Brasil afora com atualizações praticamente diárias. Os shows e
encontros com músicos e grupos locais (como o Trio Manari e o Arraial da
Pavulagem, do Pará) estão sendo filmados para um documentário produzido por
Serraria e pela equipe do Coletivo Catarse, que será lançado ao final das
turnês. Enquanto não chega esse documentário, está saindo este mês o primeiro
DVD do Alabê Ôni, também com o Catarse, mostrando manifestações populares e
ancestrais do RS negro, gravadas em diversos locais. Trechos do DVD podem ser
vistos no You Tube. Aposto que o leitor também se surpreenderá."
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2013/06/juarez-fonseca-tradicao-afro-gaucha-para-o-brasil-conhecer-4164241.html
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